Quando se fala em vinho, muitos consumidores ainda associam a rolha de cortiça à tradição e qualidade, enquanto a tampa de rosca, ou screw cap, é vista com certo preconceito. Mas será que essa distinção faz sentido? Afinal, qual é a verdadeira diferença entre os vinhos fechados com rolha e aqueles com rosca?
A resposta passa por aspectos técnicos, culturais e até econômicos. Especialistas do setor explicam que o tipo de vedação tem, sim, impacto no envelhecimento da bebida — mas não necessariamente na qualidade imediata do vinho.
A rolha: tradição e micro-oxigenação
A rolha de cortiça é um símbolo clássico do vinho, usada há séculos e associada a vinhos finos. Extraída do sobreiro, uma árvore nativa da região do Mediterrâneo, a cortiça permite uma leve troca gasosa entre o interior da garrafa e o ambiente externo. “Esse processo de micro-oxigenação é benéfico para vinhos de guarda, que melhoram com o tempo”, explica a enóloga Camila Duarte. “A rolha permite que o vinho evolua lentamente, ganhando complexidade de aromas e sabores.”

No entanto, a rolha natural também tem suas desvantagens. A principal é o chamado “gosto de rolha”, causado por um composto químico chamado TCA (tricloroanisol), que pode contaminar o vinho, mesmo em pequenas quantidades.
A rosca: praticidade e controle
Por outro lado, a tampa de rosca — comum em países como Austrália, Nova Zelândia e Chile — oferece uma vedação hermética, impedindo completamente a entrada de oxigênio. Isso garante maior consistência ao produto e elimina o risco de contaminação por TCA. “Vinhos jovens, frescos e frutados se beneficiam muito da tampa de rosca, pois ela preserva exatamente as características desejadas pelo produtor”, afirma o sommelier Thiago Ferraz.
Além disso, a screw cap é mais prática para o consumidor casual, que não precisa de saca-rolhas para abrir a garrafa. Também é mais barata e sustentável, já que não depende da exploração de cortiça natural.
Preconceito em queda
Embora ainda haja certa resistência entre consumidores mais tradicionais, o uso de tampa de rosca vem crescendo no mundo inteiro. Muitas vinícolas renomadas, inclusive na França e Itália, já produzem linhas premium com screw cap, especialmente para exportação. “O que define a qualidade do vinho é o conteúdo, não a tampa”, resume Ferraz. “Hoje sabemos que o tipo de vedação deve ser escolhido conforme o perfil do vinho e a intenção do enólogo.”
Na hora de escolher entre rolha e rosca, o ideal é considerar o tipo de vinho. Se for um rótulo jovem para consumo imediato, a tampa de rosca pode ser até mais indicada. Já vinhos que pretendem envelhecer por muitos anos ainda encontram na rolha um aliado valioso. Mais do que um sinal de status, a vedação deve ser vista como parte da tecnologia de produção — e não como um indicativo de qualidade por si só.