Chardonnay é a uva branca mais plantada do mundo

Chardonnay é a uva branca mais plantada do mundo

Originária da Borgonha, na França, a Chardonnay firmou‑se como a uva branca mais cultivada do planeta, ocupando mais de 200 mil hectares — à frente de cepas como Sauvignon Blanc e Riesling. O sucesso decorre de sua impressionante capacidade de adaptação: em climas frios, moderados ou quentes, a casta reflete o terroir com precisão e permite ao enólogo criar rótulos que vão de espumantes delicados a brancos robustos fermentados em carvalho.

Quando vinificada apenas em tanques de aço inoxidável, a Chardonnay entrega vinhos chamados unoaked, de acidez vibrante e notas de maçã verde, limão‑siciliano e flor de laranjeira — perfeitos para quem busca frescor. Já a versão fermentada ou amadurecida em barricas revela textura cremosa, aromas de baunilha, manteiga e especiarias, além de potencial de guarda que pode chegar a uma década. A versatilidade estende‑se às borbulhas: a uva é base do blanc de blancs em Champagne e de diversos espumantes do Novo Mundo, caracterizados por mousse fina, toques de brioche e citrinos maduros.

Os perfis aromáticos variam conforme a origem. Em Chablis, extremo norte da Borgonha, o clima frio gera brancos com alta acidez, intensa mineralidade — lembrando conchas fossilizadas — e notas cítricas. Na Côte de Beaune, ainda na Borgonha, o ambiente mais ameno resulta em fruta madura, avelãs e carvalho perfeitamente integrado. Do outro lado do Atlântico, Califórnia (Napa e Sonoma) exibe pêssego, abacaxi e textura amanteigada graças à fermentação malolática, enquanto regiões australianas como Yarra Valley e Margaret River oferecem manga, grapefruit e frescor marítimo. No Chile, o Vale de Casablanca produz estilos sem madeira, marcados por maracujá, pêra e acidez pronunciada. No Brasil, Serra Gaúcha e Campanha destacam‑se com vinhos de fruta tropical fresca e excelentes espumantes elaborados pelo método tradicional.

À mesa, a diversidade da Chardonnay facilita harmonizações. Versões unoaked combinam com frutos do mar grelhados, sushi, saladas cítricas e queijos frescos como burrata ou chèvre. Rótulos maturados em carvalho pedem pratos mais ricos, como lagosta na manteiga, frango assado com ervas, massas ao molho branco e queijos cremosos de casca branca, caso de Brie e Camembert. Os espumantes blanc de blancs brilham ao lado de ostras, caviar, tempurá de camarão ou simplesmente como aperitivo.

Na hora da compra, vale observar o rótulo: menções como “barrel fermented” indicam uso de barrica, enquanto termos como “unoaked” ou “sans chêne” anunciam ausência de madeira. A temperatura de serviço ideal varia entre 8 °C, para exemplares leves, e 12 °C, nos mais encorpados. A safra também conta: em regiões quentes, prefira anos recentes para garantir frescor; em áreas frias, colheitas quentes trazem fruta abundante e equilíbrio. No Brasil, bons rótulos partem de cerca de R$ 80, sendo os de clima mais frio os que costumam oferecer melhor acidez.

Produtores atentos às mudanças climáticas e às exigências do consumidor vêm adotando práticas sustentáveis. Colheita noturna preserva acidez natural; barricas de segundo uso reduzem a influência de madeira; e certificações orgânicas ou biodinâmicas ganham terreno. Técnicas como irrigação deficitária controlada poupam água e concentram sabores, agregando valor em um mercado cada vez mais consciente.

Da mineralidade cortante de um Chablis ao corpo amanteigado de um Chardonnay californiano, a uva demonstra por que reina entre os brancos. Seja em estilo leve ou robusto, há sempre um rótulo de Chardonnay pronto para acompanhar cada ocasião — comprovando que, mesmo após séculos de cultivo, essa casta segue no topo do mundo do vinho.

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