No universo da enologia, compreender a diferença entre um vinho de mesa e um vinho fino é essencial para quem deseja consumir com mais conhecimento e qualidade. A distinção vai além do preço ou da aparência da garrafa — ela está diretamente relacionada à variedade da uva utilizada e ao processo de vinificação. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que regulamenta a produção vitivinícola no Brasil, os vinhos são classificados com base na espécie da videira empregada na produção.
Os vinhos de mesa são produzidos com uvas de espécies americanas ou híbridas, como as variedades Niagara e Isabel, amplamente cultivadas no Brasil por sua resistência e fácil adaptação ao clima. Já os vinhos finos utilizam exclusivamente uvas da espécie Vitis vinifera, originária da Europa, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e outras castas internacionalmente reconhecidas por seu potencial enológico. De acordo com o sommelier Diego Bertolini, com mais de 15 anos de atuação no mercado, “a uva Vitis vinifera possui maior potencial enológico. Isso significa que ela apresenta melhor estrutura, acidez equilibrada e capacidade de envelhecimento”.
Na prática, isso significa que o vinho de mesa tende a ser mais simples, com menos complexidade de aromas e sabores, teor alcoólico mais baixo e, frequentemente, um perfil mais adocicado, especialmente nas versões suaves. Esses vinhos geralmente não passam por envelhecimento em barricas de madeira e são voltados para o consumo cotidiano. São também os mais consumidos no Brasil, por conta da sua ampla disponibilidade e valor mais acessível.
Já os vinhos finos são resultado de técnicas mais refinadas de cultivo e vinificação. As uvas são selecionadas com rigor, cultivadas sob controle climático e colhidas no ponto ideal de maturação. Esses vinhos apresentam maior complexidade, estrutura, capacidade de envelhecimento e são mais indicados para harmonizações gastronômicas elaboradas ou ocasiões especiais.
Além dessa classificação entre vinho de mesa e vinho fino, existem outras categorias importantes que ajudam o consumidor a entender melhor o que está bebendo. Uma delas é o teor de açúcar: os vinhos secos possuem até 4 gramas por litro, os meio secos (ou demi-sec) variam entre 4,1 e 25 g/L, enquanto os suaves — também chamados de doces — têm acima de 25 g/L. A cor também classifica os vinhos em tintos, brancos e rosés, e o tipo de fermentação os divide entre tranquilos (sem gás), frisantes (com leve gaseificação) e espumantes (com borbulhas naturais geradas por segunda fermentação).
O envelhecimento também é um fator importante na classificação dos vinhos. Rótulos jovens são feitos para consumo rápido, com aromas mais frutados e frescos. Já os vinhos reserva e gran reserva passam por períodos mais longos de maturação em barrica e garrafa, resultando em sabores mais complexos e estruturados.
Para quem está começando a explorar o mundo do vinho, a recomendação é começar por rótulos mais leves e acessíveis, avançando aos poucos para vinhos mais encorpados e sofisticados. Participar de degustações, visitar vinícolas e trocar experiências com sommeliers são formas práticas de desenvolver o paladar e aprender mais sobre as nuances da bebida.
“Conhecer o tipo de vinho que se está consumindo ajuda a fazer melhores escolhas, seja para harmonizar com pratos ou para ocasiões especiais”, reforça Bertolini.
Com uma gama tão ampla de estilos, tipos e classificações, compreender o que diferencia um vinho de mesa de um vinho fino é o primeiro passo para transformar o ato de beber vinho em uma verdadeira experiência sensorial e cultural.