Quando se fala em vinhos caros, muitos pensam em Bordeaux. Mas é na Borgonha, no centro-leste da França, que estão os rótulos mais cobiçados e raros do planeta. De acordo com o site Wine-Searcher, 44 dos 50 vinhos mais caros do mundo são produzidos na Côte-d’Or, coração da Borgonha. Mais do que cifras altíssimas, o que diferencia esses vinhos é algo ainda mais valioso: a exclusividade.
Ao contrário de outras regiões, o acesso aos grandes vinhos borgonheses não depende apenas de dinheiro. Muitas das vinícolas mais prestigiadas utilizam o sistema de alocação, limitando o número de garrafas disponíveis por cliente, com prioridade para compradores fiéis. No Brasil e em outros países, é comum que essas raridades desapareçam do mercado assim que chegam.
O segredo da Borgonha: terroir, tradição e precisão
A Borgonha é o berço do conceito de terroir, que associa o sabor e a qualidade do vinho às características específicas do solo, clima, topografia e até luminosidade do vinhedo. A ideia foi desenvolvida pelos monges cistercienses durante a Idade Média, que, dedicados à terra e ao vinho, catalogaram as melhores áreas de cultivo de forma meticulosa.
Hoje, a região é uma verdadeira colcha de retalhos. Cada vinhedo, chamado de climat, possui nome próprio e identidade única, mesmo que esteja lado a lado com outro. A complexidade vai além da geografia: a Borgonha trabalha majoritariamente com vinhos monovarietais, como o pinot noir (tintos) e o chardonnay (brancos), que refletem com precisão as sutilezas do terroir.

A pirâmide da qualidade: Grand Cru, Premier Cru e Villages
A classificação dos vinhos da Borgonha é outra peculiaridade que reforça seu prestígio. No topo estão os Grand Crus, vinhos de terroirs reconhecidamente excepcionais. Na sequência, vêm os Premier Crus, seguidos pelos vinhos Village, que usam uvas de uma única vila. Por fim, os vinhos regionais, com denominações mais amplas, como Bourgogne.
A sommelière Alexandra Corvo ilustra: “Dizer que um vinho é da Borgonha é como dizer que alguém é brasileiro. Dizer que é de Meursault já é como falar que é de São Paulo. Mas falar que é do vinhedo Les Perrières é como dizer que é da Mooca ou dos Jardins. São camadas que só quem conhece entende”.
Côte-d’Or: o epicentro do luxo no vinho
Dividida entre Côte de Nuits (famosa pelos tintos de pinot noir) e Côte de Beaune (reconhecida pelos brancos de chardonnay), a Côte-d’Or concentra 32 dos 33 Grand Crus da Borgonha. Em vilas como Vosne-Romanée, estão nomes lendários como Romanée-Conti, La Tâche e La Romanée, vinhos que figuram entre os mais caros do mundo.
A Clos de Vougeot, por exemplo, é um vinhedo Grand Cru murado com cerca de 80 proprietários, cada um com pequenas parcelas de terra — às vezes, apenas duas fileiras de videiras. É um exemplo claro da fragmentação que torna a produção tão limitada e, portanto, tão exclusiva.
Mais do que vinho: investimento e status
Os vinhos da Borgonha se transformaram em verdadeiros ícones do mercado de luxo. Segundo Júlia Frischtak, especialista em marketing de vinhos, mesmo grandes importadores recebem pouquíssimas garrafas de certos rótulos. “De alguns vinhos, como o Jacques-Frédéric Chambolle-Musigny Premier Cru Les Amoureuses, às vezes só chegam três garrafas ao Brasil em um ano inteiro”, relata.
Na lista dos vinhos mais caros do mundo, o Leroy Grand Cru Musigny aparece no topo, com média de US$ 37.156 por garrafa. O célebre Romanée-Conti, do Domaine de La Romanée-Conti, fica em segundo, com média de US$ 24.235. Valores que reforçam o status desses vinhos como mais do que bebidas: são investimentos e símbolos de sofisticação.
Com produção limitada, terroir incomparável e tradição milenar, os vinhos da Borgonha representam o que há de mais refinado no universo enológico. Para além do preço, o que se paga é a história, a exclusividade e a emoção única que cada garrafa pode proporcionar.
Fonte: Forbes, adaptado pela Equipe Garrafa do Dia.